Mau Amigo



“Não se associe com amigos maus, tão pouco com pessoas mesquinhas; se associe com bons amigos, se associe com homens nobres [de caráter].”

As palavras acima parecem até recomendações de um pai, de uma mãe ou até mesmo de uma avó ou de um avô.

Acredito que você já tenha escutado isso alguma vez na vida.

A mensagem acima, embora carregue forte familiaridade, foi pronunciada pelo Buda há mais de dois mil anos e faz parte dos 423 versos do texto sagrado “Caminho do Dharma” ou também conhecido como “Dhammapada”.

As dificuldades nas relações humanas não são tema recente e a cada dia o cultivo da amizade perece ser uma arte dificílima.

Não é fácil distinguir um bom e um mau amigo; não há marcas visuais no corpo ou formas de se vestir que possam dar esse indicativo. Sempre dizemos no treino das crianças, e no treino dos adultos também, que nem sempre o mau amigo te recebe com ofensas e nem sempre o bom amigo te acolhe com elogios.

E qual a razão de buscar bons amigos ao invés dos maus?

A resposta está no fato do bom amigo fazer você atingir mais rapidamente a sabedoria enquanto o mau amigo faz o oposto.

Há um episódio da vida do Buda que narra a tentativa de Devadatta (primo do Buda) em tentar matá-lo. Conta-se que Devadatta, por inveja do respeito conquistado pelo Buda junto ao povo, persuadiu um rei a embriagar um elefante e soltá-lo quando o Buda passasse pela cidade com seus 500 discípulos. O elefante enfurecido investiu contra os discípulos e todos fugiram menos o Buda. Conta-se que o animal ao presenciar a grande paz emanada do Buda acalmou-se e ajoelhou-se a seus pés. Devadatta contaminou o rei Ajase com sua inveja e o persuadiu ao mal. Já o Buda, sem pronunciar uma única palavra envolveu o elefante em sua paz e o acalmou. Por isso, há o ditado que diz ser preferível encontrar um elefante louco que um mau amigo.

Um bom amigo é um revelador de tesouro, um companheiro extremamente útil na jornada. Ainda no texto budista “Caminho do Dharma” há o seguinte verso: “Que ele [o Sábio] aconselhe, instrua, e dissuada do mal; verdadeiramente agradável é ele para os bons, desagradável somente para os maus.

O mau amigo é a ruína no caminho, ele faz o desagradável parecer agradável, faz a guerra parecer paz, o feio é transformado em belo, o vício toma lugar da virtude, o reprovável torna-se aprovável. Ele cega com elogios, com falsa proteção, com promessas, mas no fundo se deleita em ver você afastado da trilha.

Do mesmo modo que o leite demora em se tornar coalhada, o mau amigo só apresenta a sua verdadeira natureza tempos depois.

Todos os grandes conflitos nas relações humanas poderiam ser evitados simplesmente em saber distinguir o bom e o mau amigo. Tente você mesmo lembrar qualquer contrariedade que tenha tido alguma vez na vida com alguém. Certamente na ocasião você disse a si mesmo: “Se eu tivesse percebido antes, todo esse mal poderia ter sido evitado.”

Sim, isso é verdade. Poderia ter sido evitado, mas não basta ter evitado a ocasião. Se a árvore é cortada e a raiz permanece intacta, são inevitáveis novos brotos. Porém, o que te fez não perceber esse tipo de pessoa? O que te fez não notar pequenos atos que poderiam ser indicativo de mesquinharia e estupidez? O que te fez baixar a guarda?

A resposta é: a simples ilusão de achar que nenhum mal pode acontecer.

Assim como nos tempos atuais está em moda à busca por alimentos mais saudáveis, atividades corporais mais harmônicas, hábitos de vida que conduzam as pessoas a saúde e a longevidade. Igualmente é urgente o milenar conselho do cultivo das boas amizades que elevem o estado de humanidade, o desapego, a proteção mútua.

Realmente não é fácil distinguir um bom de um mau amigo, mas é possível quando nossos sentidos não estão ofuscados com a fraqueza ou com a aparente fortaleza. 

Um coração forte é aquele que não se abate diante da crítica ou diante do elogio.

Um bom amigo é tão útil como qualquer outro fator que eleve o estado de vida, e não há nada de errado em evitar os maus.







Thiago Santana
Thiago Santana

Escola de Aikido

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